segunda-feira, 22 de junho de 2009

Projecto "Backspace"











(“ move the carriage of a typewriter back one or more spaces by pressing the key called the back spacer key, used for this purpose”)

O tema proposto tem como base a leitura do Capítulo III, “Sobre Narciso ou a Estratégia do Vazio” da obra A Era do Vazio, de Gilles Lipovetsky.

Ao longo dos tempos, o Homem tem procurado reconhecer-se e descobrir a sua identidade numa figura mitológica que, de certa forma, reinterprete os problemas da sociedade em que está inserido. Assim, GL considera que o narcisismo surge de uma “deserção generalizada dos valores e finalidades sociais implicada pelo processo de personalização”. As perturbações narcísicas caracterizam-se, essencialmente, por um “mal-estar difuso e invasor, um sentimento de vazio e de absurdo da vida, uma incapacidade de sentir as coisas e os seres”. Realça, por isso, o desapego emocional cada vez mais presente nas relações pessoais dos nossos dias. Este estado de indiferença, denominado por Lash como “the flight of the feeling” procura proteger o indivíduo de decepções amorosas e dos seus impulsos, os quais ameaçam o seu equilíbrio interior. Cada um vive no meio da sua indiferença, levando a que se torne incómodo revelar os seus próprios afectos, demonstrar os seus impulsos internos, até chorar. Neste sentido, e de acordo com Nietzche, o Homem vive a errância, a qual caracteriza a contemporaneidade. E num cenário em que impera o desencanto, resta ao homem o desafio de ter que construir o sentido da sua existência. A procura do outro far-se-á no sentido da reestrutura pessoal, uma procura de alteração de hábitos de vida. A discrição passa a ser o lema fundamental no viver quotidiano. Em todo o lado se encontra a solidão, o vazio, a dificuldade de sentir e de se ser transportado para fora de si mesmo. Por isso, a existência do Homem torna-se “sismográfica”. Lipovetsky considera que o homem moderno vive numa era de hiper-individualismo e hiper-consumismo, perdido no meio do excesso de informações e sem o apego a valores. O interesse do homem por temas públicos é feito de forma muito pontual, de acordo com as suas necessidades. O que é agora já não o é daqui a pouco! Existe, por isso, uma desorientação, um vazio de referências estruturantes. Mais do que se viver na era do vazio, o autor refere que se vive na era do vago, na era da confusão e da desorientação, permitindo que a procura de soluções individuais para problemas, existências e sofrimentos seja cada vez maior. Assim, o hiper-consumismo leva a uma maior fragilização do indivíduo, ainda que o seu bem-estar, paradoxalmente, seja maior.

3 comentários:

Anónimo disse...

é(muito) bom rever este projecto

via disse...

gostei desta comunicação que não deixa de ser solitária e inquietante.bjo

CC disse...

Um texto à altura das imagens e vice-versa.